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Reforma agrária sul-africana motiva acusações infundadas de genocídio

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Reforma agrária sul-africana motiva acusações infundadas de genocídio
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

A recente lei de reforma agrária na África do Sul está no centro da controversa afirmação do ex-presidente Donald Trump sobre um genocídio contra fazendeiros brancos. O projeto, diga-se, é uma aposta ousada para corrigir desigualdades históricas, mas virou alvo de uma narrativa questionável.

Trump criticou a lei durante encontro com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa na Casa Branca, alegando que terras seriam confiscadas sem pagamento e associando a situação a uma crise migratória para os Estados Unidos. O republicano usou imagens de supostas vítimas, embora investigações tenham comprovado que algumas fotos eram de contextos alheios, como do Congo. A Casa Branca optou por não comentar a veracidade dessas imagens.

Narrativa contestada e interesses políticos

A acusação de genocídio contra fazendeiros brancos sul-africanos é um argumento antigo, reciclado por grupos da extrema-direita e influenciado por figuras como Elon Musk, que classificou as leis de propriedade do país como racistas. Ramaphosa rebate, destacando que a violência é resultado do desemprego e da desigualdade, atingindo principalmente a população negra, que representa 81,7% dos 63 milhões de habitantes, enquanto brancos correspondem a cerca de 7%.

Reparação histórica em solo desigual

A nova legislação permite a desapropriação de terras ociosas sem indenização, visando reparar a concentração fundiária herdada do apartheid. Para Núbia Aguilar, professora da UFRJ, as tensões raciais persistem por conta das desigualdades estruturais. Ela observa que o fim do apartheid não foi suficiente para eliminar a concentração de terras nas mãos da minoria branca, o que mantém a questão altamente sensível.

Resistência e tensões internacionais

O projeto enfrenta forte resistência interna, com grande parte da população branca se colocando como vítima das atuais políticas. Nesse contexto, a posição norte-americana, que apoia os interesses desses grupos, exacerba o clima de tensão racial. Historicamente, as leis fundiárias do século 20 limitaram a compra de terra por negros a apenas 13% do território nacional.

A instabilidade das relações diplomáticas entre os dois países se intensificou com o corte de ajuda americana e críticas à postura sul-africana sobre Israel. Trump abriu exceção para facilitar a entrada de imigrantes brancos sul-africanos nos EUA enquanto restringia outras nacionalidades, e expulsou o embaixador sul-africano, alimentando o clima de tensão.

Desigualdade estrutural e futuro incerto

O Banco Mundial aponta que a concentração de terras é um dos principais fatores que mantêm a África do Sul como o país mais desigual do planeta. A terra é um recurso fundamental para populações rurais, e sua distribuição desigual contribui para a perpetuação da pobreza e da desigualdade de renda.

Aguilar lembra que, mesmo décadas após o apartheid, a economia permanece fortemente dominada pela minoria branca, visível em setores como as vinícolas do Cabo. A lei vigente ainda não foi implementada em larga escala, travada pelo intenso debate político e social que o tema provoca no país.

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