Bahia
Mulheres de axé reunidas em Salvador reforçam luta por direitos e democracia

Mais de 150 mulheres de religiões afro-brasileiras, incluindo Ialorixás, Ekedis e Iabassês de 22 estados e do Distrito Federal, estiveram no Instituto Anísio Teixeira (IAT) para o V Encontro Nacional da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro). O evento, diga-se, é uma aposta ousada para fortalecer a presença feminina nas discussões sobre democracia, justiça social e ambiental.
O tema do encontro, “O matriarcado na luta pela democracia, pelos direitos sociais e justiça climática”, guiou debates intensos. Foram abordados assuntos como o racismo ambiental enfrentado por comunidades tradicionais de terreiro, a função do terreiro como espaço de segurança alimentar e cuidado socioassistencial, e a persistência do racismo religioso como obstáculo à democracia plena no Brasil.
A secretária de Políticas para as Mulheres do Estado, Neusa Cadore, participou da abertura. Com as mãos manchadas de tinta do preparo do local, ela ressaltou o protagonismo dessas mulheres diante do racismo religioso e da invisibilidade social. Nunca imaginei que veria tamanha força que atravessa gerações, afirmou, destacando o papel dessas lideranças na resistência cultural.
Pedrina do Rosário, quilombola de Jatimane, Bahia, e representante do Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, emocionou-se ao dizer que o matriarcado de axé pulsa no presente e projeta o futuro. Ela lembrou que são elas que cuidam da terra, preparam os rituais e se recusam a aceitar o silêncio como resposta. Afirmou, ainda, que seguirão lado a lado para garantir territórios livres de racismo religioso.
De São Paulo, a Ialorixá Cristina D’Osun enfatizou a necessidade de expandir a atuação para fora do terreiro, ocupando também espaços políticos. Destacou o papel da Renafro, que há mais de duas décadas cria redes de apoio e monitoramento das políticas públicas para mulheres de matriz africana.
Na primeira participação, Amanda Taquari, de Brasília, afirmou que ocupar espaços é prioridade para as mulheres de Ifá. Reforçou a importância de conhecer e difundir as políticas públicas que atendem ao povo de axé.
Ekedy Sinha, do Ilê Axé Iyá Nassô Oká, apontou o encontro como ato contínuo de resistência frente às perseguições religiosas. “Estamos juntas desde o início dessa estratégia de sobrevivência”, disse. “A Rede é resistência. Seguimos com fé e determinação para dias melhores.”
O evento contou ainda com a presença de autoridades e lideranças estaduais, como Fábya Reis, secretária de Assistência e Desenvolvimento Social da Bahia, e representantes da educação e da Fiocruz, além de mães de santo que lideram o Grupo de Trabalho Nacional de Mulheres de Axé da Renafro.