Em um daqueles paradoxos do mercado financeiro, más notícias para a economia se transformaram em combustível para a bolsa de valores. Enquanto o dólar subia, o Ibovespa reagiu com força a sinais de uma atividade econômica mais fraca.
O jogo do mercado nesta segunda-feira (15) foi de contrastes. Enquanto o dólar comercial fechou em alta, pressionado por remessas de fim de ano, a bolsa brasileira teve um dia de forte otimismo — justamente porque os ventos econômicos não sopram a favor.
A Curiosa Vitória com a Economia em Marcha Lenta
O principal motor da alta da bolsa veio de um indicador que, em tese, seria negativo. O Banco Central divulgou que a atividade econômica recuou 0,2% em outubro, medido pelo IBC-Br. Para o mercado, a notícia foi recebida com alívio.
A lógica é perversa, mas clara: uma economia que desacelera aumenta a pressão sobre o Copom para cortar os juros básicos mais cedo. A aposta agora é que o Comitê de Política Monetária possa agir já em janeiro, e não esperar até março. Juros menores fazem com que aplicações tradicionais, como a renda fixa, fiquem menos atraentes. O dinheiro, então, migra em busca de oportunidades — e encontra na bolsa um destino potencial.
Foi nessa expectativa que o Ibovespa fechou a sessão aos 162.482 pontos, uma alta firme de 1,07%. O índice passou o dia todo no azul, recuperando metade das perdas acumuladas em dezembro.
O Recorde, a Queda e a Sombra de 2026
A trajetória recente do mercado, porém, é um roteiro de volatilidade. Há poucas semanas, no dia 4 de dezembro, a bolsa brasileira batia seu recorde histórico, atingindo 164.485 pontos. O clima de euforia durou pouco.
No dia seguinte, o anúncio da pré-candidatura à Presidência em 2026 do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) funcionou como um balde de água fria, derrubando o índice em 4,31% em um único dia. O episódio mostra como o humor dos investidores segue ligado a um interruptor sensível — e a política nacional continua sendo um dos botões mais importantes.
Dólar: A Outra Face da Moeda
Enquanto as ações celebravam, o câmbio pintou um quadro diferente. O dólar comercial fechou a segunda-feira sendo vendido a R$ 5,423, com alta de 0,23%. A moeda chegou a cair durante a manhã, tocando R$ 5,38 por volta das 10h, mas reverteu o caminho e terminou próximo do topo do dia.
Dois fatores explicam a pressão de alta:
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Fator interno: A época do ano. É comum que filiais de multinacionais no Brasil remetam lucros às suas matrizes no exterior no encerramento do ciclo, aumentando a demanda pela moeda americana.
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Fator externo: A queda nos preços do petróleo no mercado internacional, que geralmente desvaloriza as moedas de países emergentes exportadores de commodities, como o Brasil.
Apesar da alta de 1,63% em dezembro, o ano de 2025 ainda acumula uma desvalorização expressiva do dólar frente ao real: 12,25%.
Um Fim de Ano à Espera do Copom
O mercado encerra 2025 respirando os dados do Banco Central e ajustando as expectativas para a primeira reunião do Copom em 2026. A pergunta que fica é se a desaceleração econômica, por um lado, e as pressões cambiais de fim de ano, por outro, darão o tom do início do próximo ciclo.
A bolsa aposta que sim, e fez sua jogada. Resta saber se a política monetária vai corresponder — e por quanto tempo o otimismo dos papéis resiste a um PIB que não cresce.