O baiano que foi ao mercado no mês passado deve ter sentido um certo alívio na hora de pagar a conta. A pesquisa nacional da cesta básica, divulgada pela Conab e pelo Dieese, traz um cenário de queda nos preços dos alimentos em 24 das 27 capitais.
A maior redução foi sentida em Macapá, com uma queda de mais de 5%. Porto Alegre, Maceió, Natal e Palmas também viram o custo da cesta encolher significativamente. Mas a notícia, claro, tem dois lados: Rio Branco, Campo Grande e Belém registraram leves aumentos.
Salvador aparece entre as cinco capitais com a cesta básica mais barata do país, com um valor médio de R$ 598,19. Fica atrás apenas de Aracaju, Maceió, Natal e João Pessoa. É um respiro, mas ainda longe de ser um milagre para o orçamento familiar.
Do outro lado do espectro, São Paulo continua sendo a capital mais cara para se encher o carrinho, com a cesta custando R$ 842,26. Lá, um trabalhador que recebe o salário mínimo precisa dedicar quase 60% do seu rendimento — ou mais de 120 horas de trabalho — só para comprar os alimentos básicos. Em Aracaju, a mais barata, esse esforço cai para 38% do salário e 78 horas de trabalho.
O que ficou mais barato?
Três produtos puxaram a queda: o arroz, o tomate e o açúcar. Em Brasília, o arroz agulhinha ficou mais de 10% mais barato. Já o tomate teve uma queda expressiva de 27% em Porto Alegre, graças a uma maior oferta nas prateleiras.
O açúcar e o leite também tiveram reduções em 24 capitais. No caso do açúcar, a Conab atribui a queda aos preços internacionais mais baixos e à safra robusta. O leite, por sua vez, barateou por excesso de oferta no campo e pelas importações.
E até o cafezinho do dia a dia deu uma trégua. O pó de café ficou mais barato em 20 capitais, com destaque para São Luís, Campo Grande e Belo Horizonte. O governo relaciona a queda à boa produtividade das lavouras e às negociações de tarifas internacionais.
Por trás dos números
“O Brasil está colhendo a maior safra da nossa história, com o consumidor indo ao supermercado com um produto mais barato e de excelente qualidade”, afirmou Edegar Pretto, presidente da Conab.
A declaração oficial é otimista, mas abre espaço para uma pergunta inevitável: até quando esse alívio dura? A economia é um mar com ondas — e a sensação de que a maré baixa pode voltar a subir a qualquer momento não abandona quem precisa fazer as contas do mês.
O fato é que, pelo menos em novembro, o arroz no prato do baiano e o café na xícara custaram um pouco menos. Num país de contrastes tão brutais, onde o esforço para comer varia mais de 40 horas de trabalho entre uma capital e outra, qualquer queda é bem-vinda. Mas ninguém solta a vigilance do bolso.
