Em meio à pressa dos embarques, 50 jovens cantores do Neojiba silenciaram o burburinho da Estação Rodoviária do Metrô. A apresentação, com repertório baiano e de Natal, deu uma pausa poética no dia a dia de quem passava por lá.
O que você faria se, no meio do trajeto para casa ou do trabalho, uma sinfonia de vozes harmoniosas interceptasse sua correria?
O cenário não poderia ser mais comum: o vai e vem incessante, o anúncio de partidas, o rosto apressado dos passageiros. Nesta segunda-feira (15), porém, a rotina de aço da Estação Rodoviária do Metrô ganhou um contraponto inesperado. O Coro Infantojuvenil do Neojiba, com 50 vozes entre 13 e 20 anos, tomou o espaço e trocou o som dos motores pelo de canções natalinas e de compositores baianos.
E o efeito foi imediato. Pessoas que só pensavam no próximo destino pararam. Sacaram os celulares para gravar, mas logo os braços baixaram — o encanto era para ser vivido, não apenas registrado. Sorrisos e olhos marejados surgiram na plateia improvisada. Gerônimo Santos, estudante, resumiu a sensação: “Passar por aqui e não parar é quase impossível. Traz um acalanto, dá uma massagenzinha boa na alma”. — Uma pausa terapêutica, e de graça, no meio do caos.
Para muitos dos jovens artistas, aquela também era uma experiência nova. Sophia Agnes, soprano de 15 anos no Neojiba desde 2022, vivia sua primeira apresentação em um lugar assim. “Foi algo mágico”, confessou, ainda surpresa. “Eu não esperava que as pessoas, na correria do dia, parassem para prestigiar. Ver todo mundo dançando, curtindo… foi muito prazeroso.” A emoção não foi só do público.
Até para Joílson Cerqueira, coordenador pedagógico do programa, aquilo era inédito. “A gente nunca fez uma apresentação com tanta gente. É um aprendizado muito grande”, destacou, revelando que a troca vai para os dois lados do palco.
A ação é parte do Natal Musical do Neojiba, um projeto que vai além do entretenimento sazonal. Em parceria com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) e o Instituto Motiva do Metrô Bahia, a iniciativa cumpre uma dupla missão: levar cultura de qualidade para onde o povo está e revelar o poder transformador da música.
Raimundo Nascimento, chefe de gabinete da SJDH, reforçou: “é um programa prioritário do Governo, uma mostra da inclusão de adolescentes, jovens e crianças pela música”. Criado em 2007, o Neojiba é essa máquina de oportunidades — atende mais de 2.360 integrantes diretos em 13 núcleos e beneficia indiretamente outras seis mil pessoas.
No fim, a apresentação na rodoviária foi mais que um concerto. Foi a prova concreta de que a arte pode, sim, ressignificar o espaço urbano. Mesmo que por alguns minutos, o local de trânsito virou lugar de permanência. E o maior presente natalino, naquele dia, não estava embaixo de uma árvore, mas ecoando pelas paredes de concreto, mostrando que a transformação social também tem ritmo, harmonia e — por que não? — um sotaque baiano de fazer parar qualquer pressa. É massa, né?
