A retirada do ministro Alexandre de Moraes da lista negra dos EUA foi celebrada com alarde pelo governo. Para a oposição, é um revés. O episódio revela mais sobre as disputas narrativas no Brasil do que sobre a relação entre os países.
A notícia veio de Washington nesta sexta-feira (12) e ecoou como um trovão nos grupos políticos brasileiros: os nomes do ministro do STF Alexandre de Moraes e de sua esposa foram retirados das sanções da Lei Magnitsky pelo governo norte-americano.
Para o Planalto e seus aliados, foi sinal verde para uma celebração em alto volume. A ministra Gleisi Hoffmann foi direta ao ponto nas redes sociais — chamou o fato de “grande vitória do Brasil e do presidente Lula” e, numa tacada só, atribuiu a “derrota” à família Bolsonaro, rotulando-a de “traidora”. O tom era de triunfo absoluto, como se uma batalha geopolítica crucial tivesse sido vencida.
A falação se espalhou. Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, gravou vídeo falando em “vitória da democracia”. A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) atacou a “imposição imperialista” e, com ironia afiada, visualizou Eduardo Bolsonaro e o jornalista Paulo Figueiredo “chorando em posição fetal”. Erika Hilton, também do PSOL, lembrou que a sanção era uma esperança bolsonarista — “de que Eduardo, um dia, abraçaria seu pai novamente”.
Só que a moeda tem dois lados. E do outro, a frustração foi escancarada. O próprio deputado Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo emitiram uma nota conjunta, em português e inglês, lamentando a decisão americana. Agradeceram ao ex-presidente Donald Trump pelo apoio e reiteraram seu discurso sobre uma “grave crise de liberdades” no Brasil. O texto foi um amargo reconhecimento de uma jogada perdida — pelo menos nesta rodada.
As sanções, impostas a Moraes em julho e estendidas à sua esposa em setembro, sempre foram mais simbólicas do que práticas. Mas no xadrez político brasileiro, onde cada peça vale uma narrativa, o simbolismo pesa toneladas. Para o governo Lula, a revogação serve como carbono de legitimidade internacional e um trunfo para desgastar a oposição. Para os bolsonaristas, era uma rara bandeira de pressão externa que se esvaiu.
No fim das contas, a poeira que levanta desse episódio diz pouco sobre a relação Brasil-EUA e muito sobre nossa guerra doméstica. Foi menos uma decisão de Estado e mais um espelho das nossas divisões — onde uma notícia administrativa de um país distante vira, por aqui, instrumento de glória ou de golpe.
