A operação de resgate de R$ 20 bilhões para os Correios esbarrou na resistência do Tesouro Nacional. A recusa veio pelos juros altos demais cobrados pelos bancos, deixando a estatal numa encruzilhada financeira.
O salvamento financeiro dos Correios acaba de levar um golpe duro — e vindo de casa. O Tesouro Nacional travou o empréstimo de R$ 20 bilhões que um pool de grandes bancos queria injetar na estatal. O motivo foi direto: os juros pedidos eram simplesmente abusivos.
A operação, aprovada pelo Conselho da empresa no sábado, foi barrada na segunda-feira (2) em uma reunião tensa no Ministério da Fazenda. O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, ouviu a notícia. O Tesouro se recusou a dar a garantia da União porque os bancos queriam cobrar 136% do CDI. O teto para esse tipo de operação, com aval do governo, é 120%. Sem o cobertor estatal, que cobre o risco de calote, os bancos ficam expostos. E a estatal, sem dinheiro.
Agora, os Correios têm dois caminhos, ambos espinhosos. Ou convence os mesmos bancos — Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra — a baixar a taxa para o limite aceitável, ou precisa esperar por um aporte direto e emergencial dos cofres públicos. Essa segunda opção jogaria a conta do prejuízo, que já bateu R$ 6,05 bilhões só este ano, no colo do contribuinte.
Mas o que significam esses números frios? O CDI é a taxa que rege os empréstimos entre os próprios bancos. Com a Selic em 15% ao ano, a proposta barrada equivalia a um juro real de aproximadamente 20% ao ano. A taxa aprovável pelo Tesouro, de 120% do CDI, ainda assim não é baixa: gira em torno de 18% ao ano. Um custo pesadíssimo para uma empresa que sangra dinheiro.
Em comunicado interno, a diretoria dos Correios manteve o tom de que segue “trabalhando” com os ministérios para avaliar alternativas. A pergunta que fica no ar, porém, é mais crua: até quando o governo vai segurar a barra de uma estatal em frangalhos, pressionado de um lado pela urgência do caixa e de outro pela sanha do mercado financeiro?
O plano de reestruturação, que inclui demissões voluntárias e o fechamento de mil agências, depende desse dinheiro para sair do papel. O empréstimo seria a tábua de salvação para pagar dívidas, modernizar o serviço de encomendas e tentar encontrar novas receitas. Sem ele, o futuro dos Correios — e de milhares de empregos — fica ainda mais nebuloso. O impasse, no fim das contas, é um cabo-de-guerra clássico: de um lado, a lógica dura do mercado. Do outro, a responsabilidade com um patrimônio público. E no meio, uma empresa que precisa urgentemente se reinventar para não virar história.
