A realidade de quem não tem o que comer na Bahia mudou drasticamente nos últimos 24 meses. Se em 2023 o estado contabilizava 1,9 milhão de cidadãos enfrentando a fome severa, o encerramento de 2025 apresenta um cenário diferente: o número recuou para 760 mil pessoas. A queda de 60% no índice de insegurança alimentar grave, ratificada por dados do IBGE, consolida o impacto de um aporte financeiro que já ultrapassa a marca de R$ 5 bilhões.
O impacto direto no prato e a estratégia financeira
A redução de 11,6% registrada apenas neste último ano é reflexo de uma logística que descentralizou o acesso ao alimento. Somente em 2025, o governo estadual destinou R$ 1,8 bilhão para sustentar uma rede que vai muito além da entrega eventual de mantimentos. O foco recai sobre a estruturação de cozinhas comunitárias e o fortalecimento da alimentação escolar, transformando o auxílio emergencial em política pública contínua.
A autonomia das famílias é o ponto central da análise técnica. Tiago Pereira, coordenador do programa Bahia Sem Fome, destaca que a dignidade plena ocorre quando o cidadão provê o próprio sustento. Contudo, até que esse patamar de cidadania seja atingido, o suporte estatal atua como uma rede de proteção indispensável para evitar o retrocesso social.
Números da Rede de Proteção em 2025
Para facilitar a compreensão da escala do atendimento, os dados operacionais deste ano foram organizados abaixo:
| Ação Estratégica | Alcance e Volume |
| Cozinhas Comunitárias | 150 unidades instaladas em 95 municípios |
| Pessoas Atendidas (Cozinhas) | 30 mil cidadãos beneficiados até dezembro |
| Cestas Básicas | 150 mil unidades distribuídas em áreas críticas |
| Doações de Alimentos | 500 toneladas arrecadadas e entregues |
| Municípios no Sisan | 189 cidades (40% do território baiano) |
Da emergência à infraestrutura produtiva
O combate à desnutrição na Bahia hoje se apoia em um sistema robusto. Além das cozinhas operadas por 120 organizações da sociedade civil via edital Comida no Prato, o estado investiu em tecnologias de abastecimento de água e no apoio direto à agricultura familiar. Esta última é o pilar que sustenta o abastecimento interno e garante que o alimento chegue aos Mercados Populares e Armazéns da Agricultura Familiar com preço justo.
A integração de 93 novos municípios ao Sistema Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) em 2025 é um passo institucional relevante. Com 189 cidades cadastradas, o acesso a verbas e programas federais e estaduais torna-se mais ágil, alcançando aproximadamente 5,6 milhões de baianos que dependem, em algum nível, dessas políticas.
Análise Regional: O Reflexo em Salvador e Região Metropolitana
Embora o balanço contemple o estado como um todo, o impacto em Salvador e Lauro de Freitas é visível na pressão sobre os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e nos Restaurantes Populares. Na capital e na RMS, a concentração populacional exige que a rede de equipamentos integrados — que inclui Bancos de Leite e Centros de Economia Solidária — funcione sem interrupções. A redução da fome grave nestes centros urbanos alivia não apenas o sistema de saúde, que passa a atender menos casos de doenças ligadas à subnutrição, mas também fortalece o comércio local através da circulação de recursos da assistência social.
Questionamentos Necessários
Apesar do avanço, o desafio permanece: como integrar os 60% de municípios que ainda estão fora do Sisan? A meta para 2026 deve focar na capilaridade dessas ações, garantindo que cidades do interior profundo e áreas afetadas por extremos climáticos (seca e enchentes) não fiquem dependentes apenas de doações temporárias, mas sim de uma estrutura de produção e armazenamento autossustentável.
