O governo federal anunciou o novo piso nacional de R$ 1.621 para 2026. A alta de quase R$ 103 traz um alívio, mas especialistas alertam: o valor ainda está longe do mínimo necessário para uma vida digna.
O Diário Oficial traz o número, mas a conta do supermercado conta outra história. O novo salário mínimo para 2026 foi fixado em R$ 1.621, um reajuste de 6,8% em relação aos atuais R$ 1.518. A regra, publicada nesta quarta-feira (24), segue a fórmula que garante um aumento real: repõe a inflação do INPC e acrescenta uma fatia do crescimento do PIB de dois anos antes — no caso, 2024.
Essa metodologia é uma virada de página. Ela quebra a lógica dos governos anteriores, de Temer e Bolsonaro, quando o piso só corria atrás da inflação para não perder valor. Agora, a teoria é que ele ganhe um fôlego extra. Só que a teoria, muitas vezes, esbarra na realidade do dia a dia.
O Departamento Intersindical de Estatística (Dieese) não poupa críticas ao modelo antigo. Em nota técnica, o órgão aponta que reajustes anuais apenas pela inflação, em períodos de preços altos, corroem o poder de compra. “O salário mínimo real se deteriorava”, afirma o estudo. Entre 2020 e 2022, por exemplo, a reposição inflacionária não foi suficiente para acompanhar a disparada no preço dos alimentos — um golpe duríssimo no orçamento das famílias mais pobres.
E aqui mora a contradição mais profunda. A Constituição diz que o salário mínimo deve atender às necessidades vitais básicas de um trabalhador e sua família: moradia, comida, saúde, transporte. Mas qual família?
O próprio Dieese faz a matemática da dignidade: para uma família de quatro pessoas, o mínimo deveria ser de R$ 7.067,18. Quase quatro vezes e meia o valor que vigorará em janeiro de 2026. É um abismo que separa a lei da vida.
O anúncio do governo, é claro, gera movimento na economia. São 62 milhões de pessoas recebendo o piso. Esses R$ 103 a mais, multiplicados, injetarão R$ 81,7 bilhões no ciclo econômico. Um sopro para o comércio, um respiro para as contas no fim do mês.
Mas será suficiente? A pergunta ecoa depois do anúncio. O novo valor é um passo, reconheça-se. Mas diante da conta do pão, do gás e do aluguel, ainda parece um passo curto diante de uma jornada longa e árdua. A discussão sobre o que é realmente mínimo para viver — e não apenas sobreviver — permanece mais urgente do que nunca.
