A Bahia, estado com a maior população preta do país, vê a cor da pele definir oportunidades. Dados do SEI revelam um abismo racial no acesso a emprego, educação e renda, onde mulheres negras enfrentam os piores indicadores.
O Mês da Consciência Negra chega com um relatório que escancara uma realidade incômoda. Apesar de ser a segunda unidade federativa com maior população negra do Brasil — 80,7% dos baianos se declaram pretos ou pardos —, a Bahia ainda carrega nas costas o fardo pesado da desigualdade estrutural. A análise da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI), baseada na PNAD Contínua de 2024, vai além dos números. Ela desenha um mapa de exclusão onde a cor da pele ainda é um atestado de vulnerabilidade.
A educação como primeiro degrau quebrado
A distorção começa cedo, muito antes da entrada no mercado de trabalho. Enquanto 20,3% dos baianos brancos tinham 16 anos ou mais de estudo, apenas 11,1% da população negra alcançou o mesmo patamar. Uma diferença de 9,2 pontos percentuais que não é acidente. É um fosso que se abre e prepara o terreno para toda a desigualdade que vem a seguir. O percentual de negros sem instrução ou com estudo fundamental incompleto também supera o dos brancos.
O mercado de trabalho: a porta giratória da exclusão
Os números são claros e cortantes. Os negros compõem 81,9% da força de trabalho baiana, mas essa maioria esmagadora se transforma em sobrerrepresentação onde a situação é pior: são 83,9% dos desempregados, 85,9% dos desalentados — aqueles que desistiram de procurar emprego — e 84,4% da mão de obra subutilizada.
A taxa de desocupação entre negros (11,1%) é maior que a dos brancos (9,5%). Mas os agregados não contam a história completa. A informalidade, por exemplo, atinge 52,7% dos trabalhadores negros, contra 48,0% dos brancos. E no trabalho doméstico sem carteira, a face mais crua da precarização, as mulheres negras são esmagadoras maioria: 82,1%.
Onde o racismo e o machismo se encontram
A intersecção entre raça e gênero produz a camada mais vulnerável. A taxa de desemprego entre mulheres negras na Bahia salta para 14,6% — um percentual avassalador, especialmente quando comparado aos 8,6% das mulheres brancas e aos 8,4% dos homens negros. É uma dupla barreira que segrega e limita vidas.
A desigualdade que dói no bolso
Toda essa exclusão se traduz em um número final e contundente: o salário. Em 2024, o trabalhador branco na Bahia ganhou, em média, 52,3% a mais que o negro. Enquanto estes recebiam R$ 1.910, aqueles auferiam R$ 2.909.
A divisão por gênero escancara ainda mais a ferida. Homens brancos ganham 51,1% a mais que homens negros. Já a diferença entre mulheres brancas e negras é ainda maior, de 55,2%. Enquanto elas recebem R$ 1.756, elas embolsam R$ 2.726.
Os dados do SEI não deixam margem para dúvidas. As desigualdades não são acidentais; são estruturais. No Mês da Consciência Negra, a pergunta que fica é: quantos mais relatórios serão necessários para que as promessas de equidade saiam do papel e se tornem, de fato, a realidade baiana?
