Com carretas e consultórios montados no Jardim Castelão, a prefeitura de Lauro de Freitas iniciou mais uma etapa do programa que tenta conter a demanda reprimida por saúde. A prefeita Débora Regis acompanhou os primeiros atendimentos.
A fila que a prefeitura tenta zerar é longa — e a espera, por vezes, é de anos. Nesta quarta-feira (3), em uma área próxima ao restaurante Terraço Mineiro, no Quingoma, o Programa Lauro Fila Zero montou sua estrutura mais uma vez. Mas desta veio com um recado: era uma edição extra, um reconhecimento tácito de que a passagem anterior pelo bairro vizinho, Vida Nova, não havia sido suficiente.
A cena tinha um ar de urgência contida. Duas carretas equipadas e oito consultórios armados às pressas para atacar uma lista de exames que se arrasta na regulação municipal. Ultrassonografia, raio-X, MAPA, Holter. Para muitos, era a chance de encurtar uma espera que já durava três, quatro anos.
A Resposta Veio das Pessoas
Ângela Galvão, 42 anos, saiu de casa cedo. Fez oftalmologista, exames de laboratório, raio-X. “Já estava esperando há um tempo e, graças a Deus, veio na hora certa”, disse, com um misto de alívio e cansaço. “É muito difícil conseguir pela regulação. A gente espera e nunca consegue.”
Ao seu lado, Nelson Souza Dias, 76 anos, também exalava a mesma sensação de pequena vitória. Raio-X, laboratorial, abdômen total. “Aqui ficou mais perto de casa”, comentou, enquanto se programava para voltar e fazer o ecocardiograma. São vozes que ecoam por Quingoma de Dentro, Quingoma de Fora e Jardim Castelão — os territórios contemplados nesta rodada.
O Discurso Oficial e a Estrutura Montada
A prefeita Débora Regis circulou pelo local, e sua fala foi direta: “Sabemos da importância do Fila Zero e que muitas pessoas aguardam há dois, três, quatro anos por uma ultrassonografia. Hoje é o momento para elas saírem daqui atendidas”. A justificativa para a edição extra foi o entendimento de que a comunidade do Quingoma precisava de uma atenção específica, que a passagem por Vida Nova não esgotou.
No campo prático, a ação não se limitou aos procedimentos no local. Uma equipe da Regulação Municipal ficou responsável por marcar na hora consultas e exames mais complexos — como colonoscopia e tomografia de crânio —, tentando garantir que ninguém saísse de mãos vazias.
A secretária de Saúde, Elba Brito, reforçou o tom de resolutividade. “O Fila Zero é uma estratégia que chega onde a população mais precisa. Nosso objetivo é que ninguém volte para casa sem sua demanda encaminhada ou resolvida.”
Mas a Pergunta que Fica: E Depois?
A iniciativa, sem dúvida, tampa um buraco imediato. Leva alívio para quem espera há anos por um diagnóstico. A presença de secretários e até do deputado estadual Pedro Tavares no primeiro dia demonstra a importância política dada ao programa.
Só que o Fila Zero, por sua própria natureza, é um projeto itinerante — um tapa-buraco de alto impacto, mas ainda assim pontual. A grande questão que fica pairando no ar quente do Quingoma é: quando as carretas forem embora, o posto de saúde de Vida Nova dará conta do recado? A regulação municipal vai conseguir absorver a nova demanda gerada?
O programa é, inegavelmente, necessário. Mas ele aponta para um problema maior: a dificuldade crônica do sistema em oferecer acesso regular e digno. Enquanto isso, a população aplaude a iniciativa que chega, mas segue na expectativa do dia em que a fila, de fato, deixe de existir.
