A frota de patinetes compartilhados ganha o mar da Ribeira. A expansão para a Cidade Baixa vem acompanhada de uma campanha de verão e uma polêmica: velocidade limitada para iniciantes.
A orla da Ribeira, com seu vento e o vai e vem das gentes, agora tem um novo som: o zumbido discreto dos patinetes elétricos. A Cidade Baixa acaba de ser integrada ao mapa de mobilidade compartilhada de Salvador, uma expansão que liga o Terminal Hidroviário à Baixa do Bonfim.
A prefeitura, em parceria com a operadora JET, colocou mais de 100 novos equipamentos na região. A promessa é oferecer uma opção ágil e — ponto crucial — não poluente para os deslocamentos no trecho.
O secretário de Mobilidade, Pablo Souza, usou um dado global para embalar o anúncio: “Salvador está entre as 11 cidades do mundo que reduziram em mais de 30% as emissões de gases de efeito estufa”. A fala, proferida num tom de vitória, tenta vincular os patinetes a uma conquista ambiental maior.
Massa, mas com responsabilidade
Os números justificam o otimismo. Desde janeiro, a capital baiana registrou nada menos que 465 mil viagens nos equipamentos. Só em outubro, foram 59 mil deslocamentos — o pico dos últimos seis meses. São quase 150 mil usuários cadastrados que encontraram no modal uma solução para trechos curtos.
Mas a popularidade traz seus desafios. Com a alta temporada às portas, a Semob anuncia a Campanha de Verão dos Patinetes para novembro. A rotina inclui blitzes educativas e as já conhecidas aulas de direção segura no Farol da Barra e na Magalhães Neto.
A trava dos novatos
A medida mais concreta — e a mais polêmica — veio disfarçada de cuidado. Quem fizer o primeiro cadastro no sistema agora terá a velocidade máxima do patinete limitada a 15 km/h. Só depois de completar cinco viagens ou 15 km percorridos o equipamento libera toda sua potência.
O secretário Pablo Souza defende a iniciativa. “Nosso foco é garantir que o uso seja cada vez mais seguro e responsável. Essa limitação inicial é uma forma de proteger os novos usuários”, justificou. A questão que fica é: será que a trava não vai desestimular justamente quem precisa se familiarizar com o modal?
Enquanto o debate segue, os patinetes já mostram seu valor ambiental. Entre janeiro e outubro deste ano, 277 toneladas de CO₂ deixaram de ser lançadas na atmosfera soteropolitana.
Oxente, a mobilidade sobre duas rodas veio para ficar. Resta saber se a cidade — com suas calçadas irregulares e motoristas pouco acostumados — está mesmo preparada para acolher essa revolução silenciosa.
