A contenção de encosta na Rua Papa-Capim, em Canabrava, foi entregue pela Prefeitura. A intervenção de R$ 2 milhões protege moradores de deslizamentos e melhora a mobilidade local às vésperas do período de chuvas.
Da lama ao concreto: a transformação de uma encosta histórica
A Rua Papa-Capim, no bairro de Canabrava, tem um novo visual — e, principalmente, uma nova sensação. A entrega de uma contenção de encosta nesta segunda-feira (22) tira do papel uma promessa antiga de segurança para cerca de 100 famílias. A presença do prefeito Bruno Reis e da vice Ana Paula Matos na inauguração reforçava a mensagem: a gestão quer capitalizar a obra como parte da sua estratégia contra os riscos geológicos da cidade.
A intervenção, que consumiu mais de R$ 2 milhões dos cofres públicos, vai muito além de um muro de arrimo. A técnica de solo grampeado aplicada em 852 metros quadrados veio acompanhada de escadaria, guarda-corpo, passeio, pavimentação e um sistema de drenagem. O pacote tenta resolver dois problemas de uma vez: a ameaça da encosta e a precariedade do caminho dos pedestres.
“Estamos às vésperas do Natal, e o trabalho não para”, disse Bruno Reis, em um tom que misturava alívio e marketing político. O gestor fez questão de colocar o projeto na conta de um esforço maior: “A Prefeitura, com essa obra, chega a 572 áreas protegidas nos últimos anos”. E adiantou a meta: mais 23 obras em execução e 46 com ordem de serviço dada, na expectativa de superar 640 áreas protegidas ao longo de 2026.
O relato de uma moradora: “apareciam até fezes”
Por trás dos números oficiais, existe uma realidade de décadas. Sandra Crispina de Jesus, 52 anos, mora na Papa-Capim desde os 16. Sua casa foi construída no pé da encosta — um lugar de risco constante. “Essa encosta era toda de barro, com muito mato, e a escada que havia nela para o nosso deslocamento era improvisada. Já vi muita gente cair”, contou.
Sandra descreve o cenário de antes com uma crueza que relatórios técnicos não capturam: “Quando chovia, a lama escorria, a água da rua de cima vinha toda para cá. Alagava tudo na frente de minha porta, apareciam até fezes”. É para histórias como essa que a Codesal e a Sucop dizem trabalhar. Antes do concreto, veio a avaliação de risco, a limpeza do talude, o estudo topográfico e a definição da técnica.
Sosthenes Macêdo, diretor-geral da Codesal, reforçou o caráter preventivo. “Aqui em Canabrava há uma demanda muito grande por ações de prevenção. Nossa prioridade é de que as vidas sejam preservadas”.
A obra é solução definitiva ou apenas um remendo?
A pergunta que fica no ar, depois da inauguração, é sobre a durabilidade dessa tranquilidade. A obra em Canabrava é inegavelmente importante — mas será suficiente? A cidade, com seu relevo acidentado e ocupação desordenada, produz novos pontos de risco na mesma velocidade que corrige os antigos.
O prefeito destacou o trabalho “mesmo com o início do verão”, período de chuvas menos frequentes. A estratégia é clara: correr contra o tempo e contra o clima. Só que a segurança de verdade não vem de uma obra isolada, mas de um planejamento urbano contínuo — algo que Salvador ainda patina para conseguir.
