O Natal no Pelourinho começa com mais do que luzes. A prefeitura iniciou a entrega de kits padronizados para os cerca de 300 ambulantes autorizados, em uma ação que mistura apoio econômico e estratégia de ordenamento para a festa.
O Mercado São Miguel, na Baixa dos Sapateiros, teve um movimento diferente nesta sexta-feira (5). Longe dos balcões tradicionais, virou ponto de apoio para quem é a alma econômica de qualquer festa de rua: os ambulantes. A prefeitura começou ali a distribuição dos kits para os trabalhadores credenciados para o Natal do Centro Histórico.
A ação, coordenada pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), segue até sábado (6) e tem um alvo claro: atender primeiro quem já faz do Centro Histórico seu local de trabalho. “Essa é uma preocupação da Prefeitura”, afirmou o secretário Décio Martins. Ele lembrou o apoio da patrocinadora Coca-Cola, que viabiliza os novos kits anualmente.
Mas para além dos isopores e sombreiros, a entrega simboliza uma segunda etapa de um processo maior. Alysson Carvalho, diretor de Serviços Públicos da Semop, explica: a primeira fase foi o cadastramento, a segunda é esta, e a terceira será o ordenamento e a fiscalização durante o evento.
— O ambulante é parte integrante dessa festa — defendeu Carvalho. Ele contribui para a segurança, evita objetos perigosos e mantém o fluxo. O kit, portanto, não é um presente. É uma ferramenta de trabalho que protege do sol, da chuva e, por tabela, organiza o espaço público.
A fala do secretário Décio Martins trouxe um exemplo concreto. Ele citou uma ambulante que, em edições passadas, conseguiu mobiliar sua casa com a renda do Natal. É essa expectativa que move quem retira o material.
Jaciara de Jesus Varjão, 53 anos, está no Pelourinho há mais de três décadas. Para ela, o kit chega em boa hora. “Estou muito ansiosa. Vai ser uma grande ajuda”, disse, revelando que já traça metas para a temporada. Ângela Maria do Carmo, 60 anos, vê no material padronizado uma forma de valorizar o trabalho e atrair mais clientes.
A festa oficial começa ainda nesta sexta, às 17h, no Pelourinho, com a presença do prefeito Bruno Reis. Os ambulantes estarão posicionados entre a Rua Chile e o Terreiro de Jesus.
Por trás dos brilhos e dos cortejos, uma engrenagem menos visível tenta funcionar. A entrega dos kits é um gesto de estruturação — um reconhecimento, ainda que temporário, de que a economia da festa passa pelas mãos desses trabalhadores. A pergunta que fica é se esse apoio dura apenas até o dia 6 de janeiro, ou se sementeia políticas mais permanentes.
O Natal do Centro Histórico promete encantar turistas. Para seus ambulantes, a esperança é que ele também garanta o sustento — com um pouco mais de dignidade e organização este ano.
