No sertão de Feira de Santana, onde a seca é uma sombra constante, o programa federal Garantia-Safra se transforma em rede de proteção. Para agricultores como Amália, é o que mantém viva a esperança — e a roça.
No distrito de Ipuaçu, em Feira de Santana, o tempo dita o ritmo da vida. A agricultora Amália Jesus Costa conhece essa sina desde que se entende por gente. Nascida e criada naquelas terras do Portal do Sertão, sua história é feita de plantar, esperar e, muitas vezes, ver a chuva faltar no momento decisivo. — A gente planta e, quando está quase chegando a colheita, a chuva falta. Aí perde a roça — conta ela, com uma calma que só quem enfrenta a natureza diariamente conhece.
Diante dessa vulnerabilidade cíclica, o Garantia-Safra emergiu não como um favor, mas como um direito vital. O programa, uma política federal executada na Bahia pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), garante uma parcela única de R$ 1.200 para famílias que perderam ao menos metade da produção por seca ou chuva excessiva. Para Amália, esse valor é a linha que separa a paralisia da persistência. — Pelo menos ajuda a pagar o dia de um trabalhador, para limpar, capinar, plantar — relata. A fala é simples, mas revela o mecanismo prático da sobrevivência no campo.
A trajetória de Amália espelha a de milhares. Antes de ter seu lote na área da Pedra do Cavalo, sua família viveu anos como rendeira, numa luta que só se converteu em posse graças ao apoio de sindicatos. Essa resistência, agora, encontra um aliado institucional. E a Bahia tem feito sua parte: desde 2023, mais de R$ 180 milhões foram investidos no programa no estado, que é líder nacional em adesão e único a subsidiar 50% das contribuições de municípios e agricultores. São 330 mil famílias beneficiadas até agora — um exército silencioso que mantém o interior pulsando.
Mas a pergunta que fica é: R$ 1.200 são suficientes para reparar uma lavoura perdida? O valor é um alívio, um sopro, mas a equação do sustento no sertão é complexa. O Garantia-Safra opera como um amortecedor social, impedindo que uma temporada de clima adverso vire uma tragédia familiar irreversível. Ele protege a dignidade.
Para Amália, e para tantos outros baianos e baianas cujas mãos estão calejadas pela enxada, o programa é mais que uma transação financeira. — É uma ajuda que faz a diferença quando a gente perde tudo — ela define. Em um estado onde o sol pode ser tanto vida quanto ruína, políticas como essa não são assistencialismo. São o reconhecimento concreto de que alimentar o país é um ofício de risco. E que, quando o céu nega a chuva, o Estado não pode negar o apoio.
