O bolso do brasileiro deve encerrar 2025 com uma pressão ligeiramente menor do que a antecipada nos últimos meses. Dados consolidados do Boletim Focus, divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Banco Central, indicam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ciclo em 4,32%. Embora o número represente uma trajetória de queda — a sétima redução consecutiva nas estimativas —, ele estaciona perigosamente próximo ao limite máximo de tolerância de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Juros elevados e o sacrifício do crescimento
A manutenção da taxa Selic em 15% ao ano é o principal vetor dessa desaceleração forçada dos preços. O Banco Central optou por manter o custo do crédito no patamar mais elevado desde julho de 2006, uma estratégia técnica para desestimular o consumo e, consequentemente, conter a alta inflacionária.
Essa política monetária austera, no entanto, cobra seu preço na atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) mantém uma projeção de crescimento de 2,26% para este ano. Trata-se de uma estabilidade morna se comparada ao avanço de 3,4% registrado em 2024. O mercado financeiro sinaliza que, para 2026 e 2027, o ritmo deve cair ainda mais, estacionando em 1,80%.
Reflexos na economia baiana e de Lauro de Freitas
Para estados com forte dependência do setor de serviços e comércio, como a Bahia, juros de 15% representam um entrave direto à expansão industrial. Em Salvador e Lauro de Freitas, onde o setor terciário movimenta a maior parte da massa salarial, a inflação de 4,32% impacta diretamente o custo operacional logístico.
A ligeira pressão no câmbio, com o dólar projetado em R$ 5,44, também atinge o polo industrial de Camaçari e as empresas de tecnologia instaladas na região metropolitana de Salvador, que dependem da importação de insumos. O cenário exige cautela dos gestores locais: enquanto a inflação parece controlada dentro da meta, o custo do capital para novos investimentos permanece proibitivo.
Panorama das Projeções Macroeconômicas (2025-2027)
Abaixo, os indicadores técnicos revisados pelo mercado financeiro:
| Indicador | Expectativa 2025 | Expectativa 2026 | Expectativa 2027 |
| IPCA (Inflação) | 4,32% | 4,05% | 3,80% |
| PIB (Crescimento) | 2,26% | 1,80% | 1,80% |
| Câmbio (Dólar) | R$ 5,44 | – | – |
| Selic (Juros) | 15,00% | – | – |
Análise de risco e metas de tolerância
A meta central de inflação é de 3%. O fato de o mercado projetar 4,32% demonstra que, embora o teto de 4,5% não tenha sido rompido, a margem de manobra é mínima. Questiona-se, do ponto de vista técnico, até quando o Banco Central sustentará juros de dois dígitos para compensar variações sazonais, como a recente alta nas passagens aéreas que elevou o índice de novembro para 0,18%.
A estabilidade nas projeções do PIB para os próximos anos sugere um cenário de estagnação controlada. Sem reformas estruturais que permitam a queda dos juros sem o repasse imediato para os preços, o Brasil — e especificamente o Nordeste — enfrentará dificuldades para retomar os níveis de expansão vistos em 2021, quando o país cresceu 4,8%.
