O calor de dezembro em Salvador ganhou outro tom na tarde de Natal. Na Arena O Canto da Cidade, milhares de vozes se uniram em louvor no show de Frei Gilson, em um evento que misturou devoção, emoção e reforçou a vocação da cidade para o turismo religioso.
A Arena O Canto da Cidade, na Boca do Rio, parecia outra. Nesta quarta-feira (25), o espaço foi tomado não por gritos de gol, mas por preces, cânticos e mãos levantadas em direção ao céu. Milhares de fiéis — famílias inteiras, caravanas de paróquias, gente de toda parte — transformaram o local em um grande templo a céu aberto. O motivo? Celebrar o nascimento de Cristo com uma das vozes mais influentes do catolicismo brasileiro hoje: Frei Gilson.
E o carmelita não mediu esforços para corresponder. Em sua primeira experiência missionária justamente no dia de Natal — “geralmente passo essa época no convento”, confessou —, ele comandou um show que foi muito além do musical. Foi um encontro. Havia oração coletiva, mensagens de esperança e aquela conexão que ele sabe criar, seja nos altares, seja nas telas, onde reúne milhões em lives durante a Quaresma.
“É uma alegria imensa estar aqui”, disse Frei Gilson, lembrando que não vinha a Salvador há cerca de oito anos. “E que bom vir à cidade que tem o nome do nosso Salvador”. A fala ecoou no discurso do prefeito Bruno Reis, que enxergou no evento um reforço do simbolismo natalino e da identidade religiosa da capital. “É um evento que deixa uma marca e que vai nos inspirar”, destacou.
Mas será que eventos como esse são só sobre fé? A vice-prefeita e secretária de Cultura e Turismo, Ana Paula Matos, deu a pista: “Isso fortalece espiritualmente a cidade e também se torna um grande chamariz para o turismo”. Ela tem um ponto. Salvador não é só axé e carnaval. A terra da primeira santa brasileira, Santa Dulce dos Pobres, respira fé o ano inteiro — e isso atrai gente.
Antes do fenômeno Gilson, a tarde já começara aquecida com o show do Padre Jaciel Bezerra, seguido de uma missa celebrada pelo bispo auxiliar Dom Gilvan Pereira. A estrutura permitiu que a devoção fluísse com conforto. E o público notou.
A professora Eliana Souza, 47 anos, foi com a mãe e tias. “Chegamos cedo porque somos fãs”, contou, feliz com a iniciativa de transformar o 25 de dezembro em momento de adoração coletiva. A aposentada Rita Lima, 67, resumiu a emoção: “Não existe nada mais especial do que honrar o Senhor no dia do seu nascimento”.
No final, quando a última música cessou e o povo começou a deixar a arena, ficou no ar mais do que o eco dos cantos. Ficou a sensação de que Salvador sabe, como poucas, tecer o sagrado ao cotidiano. E, em um país de fé fervorosa, isso não é apenas uma identidade. É também um destino.
