Salvador transformou a Arena O Canto da Cidade em um grande altar a céu aberto. Cerca de 100 mil fiéis vibraram com o show de Frei Gilson, encerrando o Natal Salvador com uma celebração que misturou louvor, emoção e uma multidão em busca de esperança.
A Noite da Multidão Fiel
Não foi só um show. Foi um movimento. Na orla da Boca do Rio, enquanto a cidade respirava o clima tranquilo do feriado, uma corrente humana tomava conta da Arena O Canto da Cidade. Cerca de 100 mil pessoas — pais com filhos no colo, jovens, idosos com terços nas mãos — transformaram o espaço em algo maior. Uma celebração coletiva onde a fé era o único ingresso necessário.
E o palco aguardava o momento principal.
O Clímax com Frei Gilson
Frei Gilson, em sua primeira experiência missionária em Salvador justamente no Dia de Natal, não apenas cantou. Ele conduziu. Do primeiro acorde, a arena silenciou e depois explodiu em vozes que ecoavam canções de louvor. Entre uma música e outra, momentos de oração coletiva criavam um silêncio denso, carregado de devoção. — Era possível sentir a emoção cortar o ar, um daqueles raros instantes em que uma multidão parece ter um único coração.
O repertório, uma mistura de clássicos e músicas autorais, carregava mensagens de esperança. O frei conseguiu algo raro: fazer de um espaço aberto e enorme um lugar íntimo de adoração.
A Espiritualidade que Veio antes do Show
O caminho até o clímax foi sendo construído desde o início da tarde. Antes de Frei Gilson, foi a vez do Padre Jaciel Bezerra, da Paróquia do Divino Espírito Santo, aquecer os corações. Em seguida, dom Gilvan Pereira celebrou uma Santa Missa que reuniu milhares sob um mesmo propósito. Foi a fundação espiritual do evento, um momento de profundidade que preparou o terreno para a celebração musical.
Caravanas de Fé: O Evento é Nacional
O que chamou a atenção foi a geografia da fé no local. Desde cedo, caravanas organizadas começaram a chegar. Não vinham apenas dos bairros de Salvador. Havia grupos do interior da Bahia — e até de outros estados. Muitos chegaram ao meio-dia, garrafa d’água e lanche na mochila, dispostos a enfrentar horas de pé por um lugar mais perto do palco.
Isso revela algo potente: o evento transcendeu os limites da capital e se firmou como um ponto de encontro nacional para os fiéis. A logística era de um grande show; a intenção, de uma romaria.
O Que Fica Além do Palco
O prefeito Bruno Reis não escondeu a satisfação. “Transformaram a arena em um verdadeiro espaço de encontro das famílias e de renovação da fé”, disse, destacando as mensagens de amor e paz. A fala oficial captura o sentimento de dever cumprido pela prefeitura, que apoia o evento.
O Natal Salvador, de fato, consolida a capital como um ímã para grandes celebrações gratuitas — e antecede a já famosa Virada Salvador. A pergunta que fica, no entanto, é sutil: a comoção da noite de Natal será capaz de se transformar em acolhimento no dia a dia da cidade?
Enquanto a multidão se dissipava, lentamente, na noite quente, levava consigo mais que lembranças de um show. Levava um sentimento de pertencimento. Em Salvador, terra de sincretismo e axé, a fé também se mede pelo volume da voz de uma multidão em prece — e pelos pés cansados de quem veio de longe só para sentir, juntos, um pouco de paz.
