Elas transformam o semiárido: a força feminina no campo baiano

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Elas transformam o semiárido: a força feminina no campo baiano

Lúcia L.F
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mulher no volanteFoto: Geraldo Carvalho/Ascom CAR

Em um movimento silencioso e poderoso, mulheres assumem a dianteira na agricultura familiar da Bahia, reinventando o sertão com inovação e sustentabilidade. A Feira Baiana da Agricultura Familiar, maior do Brasil, é o palco que torna visível essa revolução liderada por vozes como a de Valdirene Oliveira, da Cooperativa Ser do Sertão.

O Parque Costa Azul, em Salvador, vai feder a terra molhada, cheiro de umbu e determinação. De 10 a 14 de dezembro, a 16ª Feira Baiana da Agricultura Familiar reúne mais de seis mil produtos de todos os cantos do estado. Mas o que se vê ali vai muito além das bancas. É a vitrine de uma transformação profunda, conduzida principalmente pelas mãos — e pela visão — de mulheres baianas.

Elas estão à frente de cooperativas, comandam processos de agroindustrialização e ditam novas regras de convivência com o semiárido. E o governo do estado, através da CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional), tem sido um parceiro crucial nessa virada, injetando recursos em assistência técnica, tecnologia e fomento à produção.

A revolução silenciosa no semiárido

No coração do território de identidade da Bacia do Jacuípe, mais precisamente em Pintadas, a Cooperativa Ser do Sertão (Coopsertão) é o exemplo que virou referência. São 364 cooperados — a maioria mulheres negras e jovens — mostrando que é possível fazer do sertão um negócio próspero e sustentável.

A presidente Valdirene Oliveira não tem dúvidas: o segredo está em políticas públicas que enxerguem as especificidades da Caatinga. — Quando uma unidade produtiva vira um negócio estruturado, a pessoa permanece no campo. Vive e prospera da própria roça — afirma, com a convicção de quem vê o resultado no dia a dia.

O caminho da inovação: da agroecologia à COP30

A fórmula da Coopsertão é clara: agroecologia e adaptação climática. Recuperação de pastagens mortas, implantação de sistemas agroflorestais e um manejo de água quase cirúrgico. Tecnologias sociais que permitem reintroduzir umbu, umbu-cajá e maracujá da Caatinga. Na safra, essas frutas viram polpas 100% naturais — processadas sem uma gota d’água extra ou química — e geram renda direta.

O modelo é tão eficiente que cruzou fronteiras. Foi parar na COP30, selecionado pela Organização das Cooperativas Brasileiras como uma das experiências mais exitosas do país. A cooperativa de Pintadas dividiu mesas com o Ministério do Meio Ambiente e gigantes como a Natura. Uma mulher do sertão baiano, falando de igual para igual com o mundo.

O apoio que chega: como os investimentos públicos fazem a diferença

Mas inovação social não flutua no ar. Precisa de alicerce. E aqui entram os investimentos da CAR: máquinas, adequação da unidade de processamento e um sistema de energia solar que cortou 60% da conta de luz. Só isso já muda a viabilidade econômica de qualquer empreendimento rural.

Foram além. Implantaram um modelo próprio de Recuperação de Áreas Degradadas no Semiárido, que sequestra carbono, revigora o solo e aumenta a resistência das propriedades às secas — cada vez mais frequentes e severas.

O que Valdirene e centenas de outras mulheres estão provando é contundente. O futuro do campo baiano tem rosto, tem gênero e tem estratégia. Não se trata apenas de plantar. Trata-se de regenerar, processar, agregar valor e — o mais importante — permanecer. Com dignidade e prosperidade.

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