A diabetes atinge cerca de 20 milhões de brasileiros e suas complicações oculares são uma ameaça real e progressiva. Um controle rigoroso e consultas periódicas são a chave para evitar a perda visual.
Destaques:
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A ameaça invisível da diabetes para a retina
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Por que os olhos sofrem? O fator tempo e o controle
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Do início ao estágio avançado: uma progressão perigosa
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Como tratar: do controle glicêmico à cirurgia
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A receita para enxergar bem por mais tempo
Pode começar com um microaneurisma, uma minúscula hemorragia retinal que passa despercebida. Anos depois, sem o cuidado devido, a história pode terminar em um glaucoma neovascular ou em um descolamento de retina. Essa é a realidade para milhões de brasileiros com diabetes — uma doença que, silenciosamente, pode comprometer a visão de forma irreversível.
A médica oftalmologista Luciana Valença, do Instituto de Olhos do Recife (IOR), explica que o perigo mora na progressão. As complicações oculares do diabetes raramente dão sinais no início. Elas se instalam devagar, ao longo dos anos, aproveitando-se de um controle glicêmico inadequado.
A Ameaça Invisível para a Retina
O diabetes é uma tempestade perfeita para os olhos. A lista de complicações é longa e assustadora:
— Retinopatia Diabética: a mais comum, que pode ser não proliferativa ou evoluir para a forma proliferativa, mais agressiva.
— Edema Macular Diabético: inchaço na área central da retina, a mácula, responsável pela visão de detalhes.
— Glaucoma Neovascular: vasos anormais obstruem a drenagem do olho, elevando a pressão intraocular a níveis perigosos.
— Catarata Diabética: opacificação precoce do cristalino, turvando a visão anos antes do esperado.
E nos estágios finais, a hemorragia vítrea e o descolamento de retina fecham um ciclo que pode levar à cegueira.
Por que os Olhos Sofrem? O Fator Tempo e o Controle
O grande vilão, segundo Dra. Luciana, é o tempo de evolução da doença. Quanto mais anos com diabetes, maior o risco. Mas há uma nuance crucial.
No diabetes tipo 1, as alterações oculares costumam aparecer depois de cerca de cinco anos. Já no tipo 2, a história é diferente. “Essas complicações podem estar presentes desde o momento do diagnóstico”, alerta a médica. A razão? O diagnóstico frequentemente é tardio. O paciente já chega ao consultório com algum grau de comprometimento retiniano instalado.
Do Início ao Estágio Avançado: Uma Progressão Sutil e Perigosa
No começo, especialmente em casos recém-diagnosticados, os olhos podem parecer perfeitamente normais. A armadilha está justamente aí. Com o passar do tempo, surgem as primeiras lesões na retina — ainda sem sintomas.
O risco dispara quando o tempo de diabetes aumenta e o controle glicêmico falha. A retinopatia proliferativa e o edema macular tornam-se ameaças reais. “Esses quadros representam as principais causas de perda visual entre pessoas com diabetes”, enfatiza a oftalmologista.
E o pior cenário? São as complicações graves dos estágios descompensados: o glaucoma neovascular, a hemorragia vítrea e o descolamento de retina. São essas condições que podem levar à perda visual significativa ou mesmo irreversível.
Como Tratar: Do Controle Glicêmico à Cirurgia
O tratamento é uma escada de intervenções, que varia conforme a gravidade:
— Estágios Iniciais: A arma principal é o controle rigoroso da glicemia. Tratar hipertensão e dislipidemia é fundamental para frear a progressão.
— Fase Moderada a Avançada: Entram em cena as injeções intraoculares de antiangiogênicos e, em alguns casos, corticosteroides. A fotocoagulação a laser também é usada para conter a proliferação de vasos anormais.
— Complicações Graves: Quando há hemorragia vítrea ou descolamento de retina, a solução pode ser a vitrectomia, uma cirurgia delicada.
A Receita para Enxergar Bem por Mais Tempo
Dra. Luciana Valença não deixa margem para dúvidas: a maior prevenção é o controle da glicemia. Mas ela vai além.
“Quem tem diabetes pode, sim, manter uma boa visão por muitos anos — o segredo está no cuidado diário”, afirma. A receita é um conjunto de hábitos: controle da pressão arterial e do colesterol, alimentação saudável, prática de atividade física e abandono do cigarro.
Cuidar da glicose é também cuidar da visão. E num país com 20 milhões de diabéticos, esse alerta não é só um conselho médico — é uma questão de qualidade de vida. A diferença entre enxergar o mundo ou não pode estar no simples ato de medir a glicose hoje.
