O Dia da Consciência Negra foi marcado em Lauro de Freitas por um ato solene que misturou a força dos tambores com a firmeza das políticas públicas. O evento no Centro de Cultura Afro celebrou ancestralidade e lançou um selo pioneiro para terreiros de Candomblé.
O ar no Centro de Cultura Afro-Brasileira Mãe Mirinha de Portão carregava mais do que o cheiro de acarajé e o som dos atabaques. Carregava história. Nesta quarta-feira (19), a solenidade pelo Dia da Consciência Negra em Lauro de Freitas teceu, fio a fio, a narrativa de uma resistência que é diária — mas que ganha contornos especiais em novembro.
A prefeita Débora Regis estava lá, cercada por fazedores de cultura e lideranças de terreiros. Em seu discurso, a gestora não economizou nos elogios à cultura de matriz africana, chamando-a de “fundamental para a identidade” do município. — Mas a pergunta que fica é: o orçamento acompanha a retórica? — questiona um ancião do axé, que preferiu não se identificar, enquanto observava a cerimônia.
O ponto alto da noite veio com a assinatura do selo Espaço de Saúde Afro-Referenciado. Uma medida concreta — e ousada — que certifica os terreiros de Candomblé como locais produtores de saúde, um reconhecimento oficial de um saber ancestral que o Estado, historicamente, tentou apagar.
Para a secretária Margeoire Mendes, da SEMPADHIR, o Novembro Negro deve ser um “convite à reflexão e, sobretudo, a ações”. Já o superintendente Vitor Valmor foi direto: “É honrar todo o sangue derramado pelos nossos ancestrais”. Ele lembrou que as amarrações de ojás nas árvores sagradas são um protesto vivo — um grito colorido contra a intolerância religiosa e o racismo.
No meio da multidão, a publicitária Camila Marques, 32 anos, capturou o sentimento de muitos. “Que venham mais eventos, não só em novembro”, disse, ecoando um desejo comum: que a consciência negra não se restrinja a uma data no calendário, mas seja um compromisso de todos os dias.
E enquanto os ojás balançavam ao vento, brancos e imaculados, ficava a imagem de uma cidade que, pelo menos por uma noite, entendeu que sua essência mais profunda é negra. E resiste.
