Salvador vibra com a força do Novembro Negro. O feriadão da Consciência Negra deve movimentar R$ 202 milhões e trazer um recorde de visitantes, mostrando que a cultura é o melhor motor da economia baiana.
Salvador não espera dezembro para ferver. Neste feriadão prolongado do Dia da Consciência Negra, a cidade se prepara para receber 119 mil turistas — uma enxurrada de gente que vai lotar a rede hoteleira, já com 73% de ocupação confirmada.
O fenômeno tem nome e sobrenome: Novembro Salvador Capital Afro.
A estratégia da prefeitura, que injetou mais de 50 atrações na agenda do mês, conseguiu um feito raro — reposicionar no calendário turístico nacional um período que antes era apenas de reflexão. Agora, é também de celebração e movimento econômico.
— Transformamos novembro em mês de alta estação — comemora o prefeito Bruno Reis. — Conseguimos bater recordes históricos de visitantes enquanto colocamos em pauta uma data fundamental.
O som do dinheiro e da cultura
A festa tem um peso na economia. A estimativa da Secult é de uma injeção de R$ 202,7 milhões na cidade. A esmagadora maioria dos visitantes (113,6 mil) é brasileira, mas há também 5,5 mil estrangeiros cruzando o Atlântico para viver a experiência.
O ponto alto da programação acontece na Praça Maria Felipa, no Comércio. Um palco montado no mesmo chão de resistência que homenageia uma heroína negra recebe, a partir das 15h desta quinta (20), um show de Léo Santana. A escolha do local e da atração não é por acaso.
— Ter Léo Santana no dia 20 simboliza essa potência, a energia do nosso povo — defende a vice-prefeita Ana Paula Matos. — É a afirmação da identidade afro-baiana que inspira o Brasil.
Mais que festa, uma reparação
Mas sob o ritmo do axé, há uma camada mais profunda. A secretária de Reparação, Isaura Genoveva, lembra que a data é, antes de tudo, um convite à luta.
— Pensar o enfrentamento ao racismo é pensar em inclusão, acolhimento, educação — ela frisa, destacando que Salvador foi pioneira ao criar uma secretaria específica para o tema.
O programa Capital Afro, portanto, não se esgota em novembro. É uma política de estado que tenta enfrentar o racismo durante os 365 dias do ano. A assessora-chefe do gabinete, Ivete Sacramento, vê o mês como uma culminância.
— Culminamos esse ciclo na Praça Maria Felipa, um espaço simbólico de resistência. Mais do que uma festa, é um momento de reafirmar o compromisso de Salvador com suas raízes.
A cidade prova, na prática, que celebrar a própria identidade é um ato político — e um excelente negócio. O desafio agora é garantir que o legado desses R$ 202 milhões vá além do asfalto quente do feriadão.
