A luta secular contra o Aedes aegypti ganha, finalmente, uma arma poderosa criada em solo nacional. O Ministério da Saúde anunciou as diretrizes para a primeira vacina contra a dengue produzida integralmente no Brasil pelo Instituto Butantan — e ela chega com uma vantagem logística crucial: é de dose única.
As primeiras 1,3 milhão de doses já estão prontas. E a escolha de quem receberá primeiro não foi aleatória: serão os profissionais da Atenção Primária, aqueles que estão na linha de frente, nas UBSs e nas visitas domiciliares. A previsão é que esse lote inicial esteja disponível até o fim de janeiro de 2026.
“A atenção primária é a porta de entrada para os casos de dengue”, justificou o ministro Alexandre Padilha. A estratégia é clara: proteger quem protege a população, criando uma barreira inicial nos postos de saúde. Mas a pergunta que todo baiano faz é: quando chega pra gente?
O plano é escalonar. Com o aumento da produção — fruto de uma parceria com a chinesa WuXi Vaccines —, a vacinação deve se estender ao público geral. A fila começaria pelos adultos mais velhos, a partir de 59 anos, e iria descendo gradualmente até os 15. Uma corrida contra o tempo e contra o mosquito.
Enquanto o país aguarda sua vez, Botucatu, no interior de São Paulo, viverá um experimento real. O município será uma área de estudo para medir o impacto da vacinação em massa. Lá, toda a população de 15 a 59 anos deve ser imunizada rapidamente. A expectativa é que, com uma adesão entre 40% e 50%, já seja possível ver o vírus recuar. Botucatu não é novata nisso: durante a covid-19, foi palco de um projeto semelhante.
Os números da vacina do Butantan são promissores: 74,7% de eficácia contra a dengue sintomática e 89% contra as formas graves. Um alívio para um sistema de saúde que já convive com outra vacina no SUS — a de origem japonesa, aplicada em duas doses em adolescentes.
Agora, o desafio é de logística e escala. O SUS provou sua capacidade durante a pandemia. Será que, no combate a um inimigo antigo e sazonal, conseguiremos repetir o feito? A resposta começa a ser escrita em janeiro, nas veias dos profissionais de saúde. O resto do país fica na torcida — e na espera.
