O Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU e atingiu os menores índices de pobreza da história. Em uma noite de celebração no Teatro Nacional, o Prêmio Brasil Sem Fome destacou as políticas e pessoas por trás dessa conquista.
A cerimônia no Teatro Nacional, em Brasília, tinha o clima de quem comemora uma vitória duramente conquistada. Na quarta-feira (17), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social lançou a primeira edição do Prêmio Brasil Sem Fome, um reconhecimento às políticas públicas e iniciativas que tiraram o país do Mapa da Fome da ONU. Os dados, divulgados ao longo do ano, são sólidos: o país alcançou os menores patamares de pobreza extrema desde 2012, com mais de 10 milhões de pessoas saindo dessa condição entre 2023 e 2024.
Mas a noite foi além dos gráficos. Era sobre gente.
O ministro Wellington Dias não escondeu a emoção ao falar daquelas pessoas que um dia receberam o Bolsa Família e hoje são microempreendedoras ou têm a carteira de trabalho assinada. “Teremos ainda mais orgulho quando estivermos não apenas entre as maiores potências do mundo, mas também entre os países com mais igualdade”, disse, projetando um futuro que ainda depende de muito trabalho. Uma declaração ambiciosa, que coloca o combate à desigualdade no centro do projeto de nação.
A fala de dona Maria Sales, de Nova Russas (CE), traduziu em poucas palavras o que todos os números significam. Beneficiária de políticas sociais, ela afirmou, com a simplicidade de quem sabe o valor de cada real: “Hoje, se eu receber qualquer um de vocês, posso oferecer um lanche sem me fazer falta”. — Esse é o retrato mais tangível da segurança alimentar: a dignidade do compartilhar.
O território da mudança
A premiação mapeou quem está fazendo a diferença nos estados e municípios. O Ceará foi destaque pela maior ampliação percentual de domicílios com segurança alimentar. “Essa premiação pertence a um povo inteiro”, ressaltou o governador Elmano de Freitas.
A Bahia, por sua vez, foi duplamente reconhecida: esteve entre os estados com melhor funcionamento do Sistema Nacional de Segurança Alimentar (Sisan) e viu o município de Piatã premiado na categoria de boas práticas. Um sinal de que ações locais, quando articuladas, criam um impacto real.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, trouxe para o palco a memória afiada da seca. “Eu, assim como o presidente Lula, sou uma sobrevivente da seca. Conheço essa realidade porque a vivi”. Sua fala foi um lembrete poderoso: políticas de combate à fome são, antes de tudo, políticas de memória. É não deixar que a sociedade esqueça a dor da privação.
E agora?
A presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), Elizabetta Recine, deu o tom do desafio futuro: “Esse prêmio merecido é só um ponto de partida. Precisamos garantir alimentação saudável e sem agrotóxico. Comida boa e comida barata”.
O evento também homenageou instituições do Judiciário e Legislativo, reconhecendo que a garantia do direito à alimentação é uma batalha que precisa ser travada em todas as frentes.
A saída do Mapa da Fome é, inegavelmente, uma conquista histórica. Mas a cerimônia no Teatro Nacional deixou claro que celebrar é necessário, mas não é suficiente. A pergunta que ecoa após os discursos é justamente a que Fátima Bezerra fez: como fazer com que o Brasil nunca mais retorne a esse lugar de escassez? A resposta está na continuidade das políticas, na pressão da sociedade e na certeza de que, como disse dona Maria, ninguém faz nada sozinho.
