A Bahia encerra o ciclo de 2025 com uma inversão histórica na hierarquia das finanças públicas brasileiras. Pela primeira vez em mais de uma década, o estado ultrapassou São Paulo em volume absoluto de investimentos, destinando R$ 4,12 bilhões para projetos de infraestrutura e bem-estar social apenas entre janeiro e agosto. O desempenho é tecnicamente relevante ao considerar que a capacidade orçamentária paulista é cinco vezes superior à baiana, o que indica uma priorização severa de aportes em detrimento do custeio administrativo.
O resultado, extraído do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi), aponta que o Tesouro Estadual aplicou 74% desses recursos a partir de caixa próprio. Esse dado é um indicador de solvência, demonstrando que a administração não depende exclusivamente de operações de crédito para manter o cronograma de obras públicas.
Desalavancagem e Perfil da Dívida Consolidada
Enquanto ampliava a injeção financeira em obras, a Secretaria da Fazenda (Sefaz-BA) executou uma redução nominal de R$ 2,6 bilhões no passivo estadual. Em outubro de 2024, a dívida consolidada era de R$ 35,3 bilhões; o balanço mais recente aponta recuo para R$ 32,7 bilhões.
A tabela abaixo detalha a evolução dos indicadores de endividamento no último ano:
| Indicador | Dezembro/2024 | Outubro/2025 | Variação |
| Dívida Consolidada (R$) | 35,3 bilhões | 32,7 bilhões | – 2,6 bilhões |
| Dívida / Receita Corrente | 37% | 31% | – 6 p.p. |
| Aporte Próprio em Obras | – | 74% | Estabilidade |
A queda na relação entre a dívida consolidada líquida e a receita corrente líquida (de 37% para 31%) reforça o perfil de “bom pagador”. Do ponto de vista técnico, a manutenção desse índice abaixo do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal é o que permite ao estado captar novos empréstimos com juros reduzidos para projetos estruturantes em Salvador e no interior.
Rigor Fiscal e Combate à Sonegação
A sustentação desses números decorre de duas frentes de atuação direta: a modernização do aparato arrecadador e o controle de perdas. O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (Cira) recuperou R$ 145,2 milhões em créditos que haviam sido sonegados apenas em 2025. O esforço envolve o Ministério Público e a Secretaria de Segurança Pública para coibir crimes contra a ordem tributária.
No âmbito administrativo, a Coordenação de Qualidade do Gasto Público (CQGP) revisou 71 mil processos internos. O objetivo é a eliminação de redundâncias, o que gerou uma economia real acumulada de R$ 9,4 bilhões nos últimos dez anos. Esses valores, que antes seriam consumidos pela burocracia, são agora redirecionados para a manutenção de hospitais e ampliação da malha viária.
Impacto na Região Metropolitana e Interior
Para o cidadão de Lauro de Freitas ou da capital, esse cenário de liderança em investimentos reflete na continuidade de intervenções de mobilidade e saúde. Quando o estado lidera o ranking nacional de investimentos, a probabilidade de paralisação de canteiros de obras por falta de fluxo de caixa é minimizada.
A transição para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), prevista na Reforma Tributária, também pautou as ações do fisco em 2025. A preparação tecnológica visa mitigar a perda de arrecadação e assegurar que a Bahia mantenha a autonomia financeira diante das novas regras nacionais. O equilíbrio demonstrado nos dados da Sefaz sugere uma transição menos turbulenta para as contas municipais e estaduais no próximo biênio.
