Um pacote bilionário para oncologia e a inauguração do pioneiro Hospital de Transição Costa dos Coqueiros, em Lauro de Freitas, marcam uma virada na saúde pública baiana. O investimento promete interiorizar tratamentos complexos e desafogar a capital.
Um hospital para fechar lacunas
Lauro de Freitas foi o palco de uma mudança de rumo na saúde baiana. Enquanto autoridades anunciavam um pacote robusto de investimentos, a cena principal era a inauguração do Hospital Estadual Costa dos Coqueiros — o primeiro do país dedicado integralmente ao SUS como hospital de transição e longa permanência.
A unidade, com seus 90 leitos (60 para reabilitação e 30 para condições crônicas complexas), nasce com uma missão clara: ser uma válvula de escape para os hospitais gerais de Salvador. O governador Jerônimo Rodrigues foi direto ao ponto: a agenda tenta encurtar a distância entre o paciente e o tratamento especializado. “Nossa prioridade é fazer com que tratamentos complexos deixem de ser exclusivos de Salvador”, afirmou.
— O custeio mensal de R$ 3,4 milhões, com um reforço federal de R$ 29,4 milhões por ano, é a garantia de que o serviço não vai minguar depois da inauguração — explica o diretor-geral da FESF, Bruno Guimarães, que administrará a unidade.
Dinheiro no lugar certo
Mas a agenda em Lauro de Freitas foi além do hospital. O Ministério da Saúde trouxe na bagagem um incremento de R$ 352,2 milhões para o Teto de Média e Alta Complexidade do estado. A verba é um sangue novo para as 26 Policlínicas Regionais — que atendem 416 municípios — e para hospitais de referência como o Ortopédico e o Mont Serrat, em Salvador.
A pergunta que fica é: esse volume de recursos será capaz de, de fato, reorganizar a rede? O governo aposta que sim.
Caetité no radar
Um dos anúncios mais aguardados foi a estadualização da Unacon de Caetité. A unidade, com 110 leitos (sendo 20 de UTI), passa agora para as mãos diretas da Sesab. O custeio mensal será de R$ 4 milhões, com a maior parte vindo do ministério.
A promessa é reabrir o serviço oncológico ainda em dezembro e instalar uma UPA Tipo III na cidade, com obras orçadas em R$ 8,1 milhões. É uma tentativa concreta de levar alta complexidade para o sertão, um desafio histórico para o SUS baiano.
Bahiafarma em cena
E o combate ao câncer também se dá na ponta da indústria. Jerônimo Rodrigues e Padilha assinaram a ordem de serviço para ampliar a Bahiafarma, em Simões Filho, com um investimento de R$ 24,5 milhões. A reforma das plantas de sólidos orais e de diagnóstico é só o começo.
O pulo do gato está na produção de quatro medicamentos biológicos de alto custo: bevacizumabe, nivolumabe, pertuzumabe e eculizumabe. Sozinhos, esses produtos representam um potencial de R$ 1,945 bilhão no plano de compras do Ministério da Saúde.
— Estamos ampliando o acesso a medicamentos modernos em todas as etapas do cuidado — disse o ministro Padilha, definindo o pacote como uma “mudança de escala” no enfrentamento do câncer.
A secretária estadual de Saúde, Roberta Santana, completou: é um redesenho completo da rede. A meta é clara: acelerar a regulação e dar respostas mais rápidas a quem mais precisa.
O sotaque baiano, agora, ecoa também nos corredores de um hospital pioneiro e nos laboratórios de uma indústria farmacêutica que quer mudar o jogo. O desafio, como sempre, será fazer o dinheiro chegar onde a dor existe.
