Em uma simbólica entrega na véspera de Natal, Salvador ganha mais uma arena esportiva. A João Mangabeira, nos Barris, é o 92º campo com grama sintética da cidade, em um investimento que mira além do gol: a transformação social.
O esporte como política pública ganha forma concreta — e verde — nos bairros de Salvador. A Arena João Mangabeira, entregue na quarta-feira (24), não é apenas um número em uma meta: é a materialização de uma aposta em lazer, segurança e cidadania.
A cerimônia tinha o clima de presente de Natal. Com a presença do prefeito Bruno Reis, da vice Ana Paula Matos e do secretário de Esportes, Júnior Magalhães, a entrega na Arena João Mangabeira carregava um simbolismo forte. O investimento de quase R$ 1 milhão revitalizou um dos maiores campos da cidade, atendendo cerca de 30 grupos esportivos regularmente.
A mudança é visível e tátil. O velho barro deu lugar a uma grama sintética de última geração. O alambrado foi todo refeito e as novas lâmpadas de LED iluminam a noite dos Barris. — A gestão tem promovido uma transformação histórica, substituindo antigos campos de barro por arenas modernas — afirmou Júnior Magalhães.
Para o secretário, o impacto vai muito além da drenagem perfeita ou do jogo noturno. O centro é a inclusão. — O maior resultado está na redução da criminalidade e no fortalecimento do esporte gratuito, principalmente para comunidades que antes não tinham acesso — defendeu.
Do discurso à realidade do jogo
O prefeito Bruno Reis foi pessoal: — O esporte contribuiu muito para eu ser o que sou hoje. Ensina disciplina, foco, trabalho em equipe. É por isso que investimos tanto.
Mas será que a retórica se sustenta no dia a dia do campo? A resposta vem de quem pisa no gramado três vezes por semana.
Altair Santos coordena um projeto para 70 meninos e meninas de 8 a 15 anos. O antes e depois é brutal. — Trabalhávamos no barro, cheio de buracos, e os meninos se machucavam muito. Hoje, a grama traz conforto, segurança e motiva mais as crianças — conta. A queda no número de contusões é um dado silencioso, mas eloquente.
Já Sandro Santos, 46, vendedor ambulante e frequentador assíduo, resume a transformação com a clareza das ruas: — Antes era barro. Quando chovia, virava lama e muita gente deixava de jogar. Hoje, pode chover que a gente joga do mesmo jeito. O campo ficou maravilhoso. Show de bola.
O que os números (não) contam
Salvar chega ao 92º campo sintético. Um número impressionante, que coloca a cidade no topo do ranking nacional de investimentos do tipo. A questão que fica é qual a qualidade desse legado.
A arena nos Barris já havia sido revitalizada em 2017, ganhando uma quadra poliesportiva e uma praça. Agora, com o campo em condições de campeonato, o local se consolida como um ponto vital de convivência.
O esporte, nas palavras oficiais, é “ferramenta de transformação”. Na prática da João Mangabeira, ele se traduz em crianças correndo seguras à noite, em times de amigos que não precisam mais cancelar o pelada por causa da chuva, e em projetos sociais que conseguem desenvolver seu trabalho sem ver seus atletas se machucando no chão irregular.
É um jogo de longo prazo. E o gol mais bonito, talvez, nem apareça no placar.
